3 de ago. de 2011

Daniel Johns fala sobre Frogstomp

A entrevista a seguir é uma continuação da matéria publicada na revista da rádio Triple J, sobre os 100 melhores álbuns australianos


Silverchair


Em segundo lugar no Hottest 100 Australian Albums de todos os tempos está FROGSTOMP, o inesquecível álbum de estréia de três adolescentes de Newcastle. Você pode ler a nossa versão dos fatos sobre o álbum na edição mais recente -- mas aqui vai o que o vocalista DANIEL JOHNS lembra daquele tempo...


Daniel Johns: Eu achava que sermos descobertos tão cedo era uma maldição. Antes de eu descobrir o que era arte e o quão longe se poderia ir. Eu me sentia sobrecarregado. Mas agora, olhando pra trás, você tem que entender e aceitar. Tivemos muita sorte.

Se eu era um garoto angustiado na época? Eu era mais angustiado durante o Freak Show, foi a epítome da minha angústia (risos). A mensagem não era ser bonitinho ou legal; era expressar algo com que estávamos putos, muito embora eu tivesse vocabulário e habilidade limitados. A gente era bonitinho mesmo assim? Eu sei – havia uma dicotomia estranha, dado o contexto das músicas – o que estavamos tocando – e como éramos fisicamente. Quando vejo fotos antigas nossas eu ainda dou risada; acho muito engraçado.

Eu me considero inacreditavelmente sortudo. Exceto gravar o disco, o que é, claro, a parte mais importante, a gente não teve tanto trabalho. Não é como as bandas de hoje em dia que vão lá, gravam, tentam promover os discos, fazem tudo que se deve fazer hoje em dia. Isso foi antes dessa coisa toda de internet. Muita gente acreditava no disco, mais do que a gente naquele tempo.

John O'Donnell, Fundador da Murmur Records:
A banda era muito focada. Eles queriam que Frogstomp fosse mais pesado. Eles já tinham trabalhado com o produtor Kevin Shirley no single de Pure Massacre e adoraram. Kevin conseguiu que soasse como eles queriam e trabalhou rápido, dada a falta de atenção dos garotos. Foi uma ótima combinação.

Daniel: “Israel’s Son” foi a primeira música em que descobri o clássico truque grunge de afinar a guitarra em Ré, então é uma afinação aberta. Lembro que pensei ter descoberto o Santo Graal! Mais o que me deixou mais empolgado foi o fato da música soar com o som do Black Sabbath (risos). Fiquei muito animado com isso e mostrei ao meu pai. Eu fiquei tipo “Sim! Legal, meu pai aprova!”. Meus pais tinham um ótimo gosto musical, então, se eles fizessem referência a alguma banda que gostassem (ao comparar com as músicas do silverchair), eu sabia que estava no caminho certo.

Eu não lembro muito bem se na época era divertido. Lembro de estar sob influência de tudo o que estava acontecendo musicalmente em nosso redor; não ter nenhuma visão artística como trunfo sobre ninguém, ultrapassar alguém ou fazer uma declaração artística. Era basicamente um espelho do que eu amava na música naquele tempo.

John: Eu ia ao estúdio toda noite. Eles gravaram no grande, atualmente desativado, Festival Studios em Pyrmont, gravaram uma música por dia e terminaram em menos de duas semanas. Então eu chegava lá por volta das seis da tarde e sempre tinha alguma coisa nova e bacana pra se ouvir. Daniel, Ben [Gillies] e Chris [Joannou] estavam se divertindo, trabalhando rápido e brincando de andar nos carrinhos pelos corredores do estúdio, fazendo palhaçadas, assistindo a pornografias, estando juntos. Era tudo muito empolgante: a gente sabia que eles estavam fazendo um grande disco e canções como ‘Suicidal Dream’ e ‘Israel’s Son’ eram brilhantes.

 Kevin 'Caveman' Shirley, produtor: Honestamente, era a hora certa no lugar certo. Havia um vazio no mercado, já que não havia nada novo de bandas como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden, as influências deles no disco. E por que eles eram tão novos e influentes, eles não tinham vergonha de copiar o estilo desses caras, mas também não havia outra opção para entrar no mercado de outra forma naquele tempo.  Então acho que foram bons o suficiente e preencheram uma lacuna. O legal foi que o Steve Harris do Iron Maiden ouviu o disco e adorou, e essa foi a razão principal por eles terem me chamado para trabalhar com eles. E minha relação com o Iron Maiden é longa – a gente fez muitos hits (e nos divertimos muito) nesses 12 anos juntos!

 John: A performance de New Race no ARIA Awards de 1996 com o Tim Rogers do You Am I na guitarra ainda é uma lembrança daquele tempo que ainda me dá arrepios. Aquilo foi inacreditável.

Daniel Johns: Foi meio que um momento “me belisca” quando tocamos na marquise do Radio City Music Hall em Nova Iorque [para o MTV Video Music Awards em setembro de 95]. Eu lembro de assistir cenas do Let it Be dos Beatles e um videoclipe do U2 lá. Lembro de pensar (perplexo), “A gente vai tocar nesse telhado pra centenas de pessoas”. Eu meio que pensei que o público tivesse sido contratado ou algo parecido. Foi um choque: eu fiquei surpreso de como parecíamos populares por lá. Foi nesse momento que a ficha caiu de que algo estava acontecendo.

Se eu vou sentir falta de tocar essas músicas? [em Maio de 2011, Silverchair anunciou um hiato por tempo indeterminado] Não, não de verdade. Eu acho que tudo é uma fase da vida, e também não é que não tivemos oportunidades de tocar tudo. É bacana ter outra coisa por um tempo. E se quisermos fazer algo no futuro – fazer um disco, fazer alguns shows – nós podemos fazer. Mas por enquanto, eu estou me concentrando em encontrar um novo ângulo e me tornar o artista que eu quero ser, em detrimento de ser apenas o vocalista do Silverchair. Há muita coisas que eu quero fazer que não estão ligadas a performance. Para mim o que importa é a música e a arte, expressão. É esse o meu futuro imediato, onde eu estou investindo.

 a matéria original foi postada no site Triple J, você pode acessar nesse endereço: http://www.abc.net.au/triplej/mag/blogs/s3274880.htm